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27 de agosto de 2025
Giberela no trigo: como prevenir a doença nos meses críticos de agosto e setembro
O mês de agosto é o início de um período muito importante nas lavouras de trigo do Sul do Brasil. Em algumas regiões, como a das Missões, no Rio Grande do Sul, e a região central do Paraná, a última semana de agosto marca o começo do espigamento do trigo, fase que antecede a antese – ou seja, o florescimento da planta. E é justamente neste momento que o produtor deve ficar de olho aos riscos de infecção de uma das doenças mais relevantes da cultura, a giberela.
Causada pelo fungo Fusarium graminearum, a giberela é uma doença que afeta a espiga do trigo, assim como de diversos outros cereais de inverno, como cevada, triticale, centeio e aveia.
Para Flávio Martins, coordenador de fitopatologia da GDM Seeds, a giberela é a principal doença do trigo no Sul do país devido aos seus danos na produtividade da lavoura e na qualidade do grão.
“Ela causa danos muito relevantes de, pelo menos, 40% na redução do rendimento, em média. Mas eu diria que o principal dano da giberela está atrelado à qualidade dos grãos, principalmente na capacidade que esse fungo tem de produzir uma micotoxina chamada deoxinivalenol, mais conhecida como DON”, explica.
Segundo o fitopatologista, quando ingerida de forma crônica, a micotoxina pode causar uma série de prejuízos, tanto para a saúde humana, como para a animal. “Por isso, existe uma legislação que aponta limites máximos tolerados de DON em produtos e subprodutos dos cereais.”
Como ocorre a infecção por giberela no trigo?
A giberela é uma doença que infecta a flor da espiga, também chamada de antera. Essa infecção floral está atrelada a dois fatores principais: temperatura e, sobretudo, molhamento.
“Para ocorrer a infecção, é preciso que tenha a ocorrência de umedecimento nas anteras. Falamos de um mínimo de 24 horas, mas o ideal para o fungo são molhamentos contínuos de 48h em temperaturas de 24ºC a 25ºC”, destaca Flávio.
Com condições favoráveis, resta apenas que o inóculo do fungo, que é transportado pelo vento, atinja o sítio de infecção para dar início ao processo.
— Por ser necrotrófico, o fungo sobrevive em vários hospedeiros e na palhada de cultivos. E, se o fungo é disseminado pelo vento por longas distâncias, práticas culturais como a rotação de culturas, adubo verde, cobertura morta e mix de plantas não vão controlar a giberela, pois o inóculo já estará presente em quase todas as lavouras dos produtores. Você pode até fazer a rotação na sua lavoura, mas se o vizinho tem azevém, trigo, aveia, milho, o inóculo vem dele — conta Ricardo Casa, doutor em fitopatologia e professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
Qual é o período propício para infecção por giberela?
Conforme Flávio, o momento propício para infecções por giberela é todo aquele em que os estágios de espigamento e florescimento coincidem com períodos de chuva. Segundo ele, esses períodos chuvosos costumam acontecer nas seguintes épocas do ano:
Rio Grande do Sul
● Região norte: final de setembro a início de outubro;
● Missões: final de agosto a início de setembro;
● Metade sul: final de setembro a início de outubro;
Santa Catarina
● Planalto: final de setembro a início de outubro;
● Região oeste: metade de setembro;
Paraná
● Campos Gerais: metade de setembro;
● Região central: final de agosto a início de setembro.
Quais são os sintomas da giberela no trigo?
A infecção da giberela na espiga de trigo apresenta dois sintomas característicos. Um deles é a descoloração das espiguetas. “Em uma condição sadia, normalmente o trigo terá uma espiga verde. Essa descoloração faz com que a espiga fique em uma tonalidade mais rosada, parecida com a cor salmão”, indica Flávio.
Junto à despigmentação da espiga, é comum observar um desalinhamento nas aristas. “Elas ficam retorcidas ou desalinhadas na espiga”, acrescenta.
Entretanto, o fitopatologista alerta: uma vez que os sintomas da giberela são visualizados, não há mais nada a ser feito para controlar a doença no campo.
— Todas as medidas de controle a nível de campo são preventivas. Não tem nada que o produtor possa fazer na lavoura depois que ocorreu a infecção por giberela — ressalta.
Medidas de controle para giberela
No campo, existem três principais formas de controlar a giberela: resistência genética, escalonamento de épocas de semeadura e controle químico.
Uso de cultivares moderadamente resistentes ou resistentes
Considerando a complexidade no controle à doença, somado ao potencial de dano na produtividade e na qualidade do grão, devido à produção de DON, o uso de cultivares moderadamente resistentes ou resistentes se torna a principal medida de manejo para giberela.
“Eu diria que a genética é fundamental e as demais medidas complementam ela. Porque no uso de fungicidas, por exemplo, por mais eficientes que sejam os ingredientes ativos, há uma série de limitações quanto à tecnologia de aplicação para fazer esse produto chegar nas anteras. Então, o uso de genéticas resistentes é primordial, até porque vai definir a forma como eu vou manejar a minha lavoura”, destaca Flávio.
TBIO Trunfo e Biotrigo Talismã: referências em resistência à giberela no campo
Com esse contexto de desafios gerados pela giberela, a Biotrigo investe há anos de forma significativa em pesquisas para lançamento de genéticas mais resistentes ao fungo.
“Esses investimentos vêm resultando em uma maior agilidade ao programa de melhoramento. Temos colhido bons frutos e estamos avançando cada vez mais na resistência genética à giberela em cultivares.”
Um dos resultados desse investimento constante – e de longa data – em genéticas mais seguras contra a doença é o TBIO Trunfo. A cultivar, lançada em 2020, possui o maior nível de resistência à giberela do mercado.
“A cultivar é, de fato, um trunfo do melhoramento genético da Biotrigo, pois é uma cultivar agronomicamente viável, com qualidade industrial, outras boas características e, ainda por cima, tem uma resistência muito grande à giberela”, comenta Flávio.
Junto a um excepcional nível de resistência à doença, TBIO Trunfo também apresenta uma excelente reação frente à brusone da espiga e uma ótima estabilidade de PH. “Ele tem uma baixa oscilação no PH em pré-colheita. Então, é uma das cultivares que mais entrega segurança na espiga”, pontua.
Outra cultivar com excelente nível de resistência à giberela é Biotrigo Talismã, lançamento no mercado de trigo. A cultivar possui um perfil similar a TBIO Audaz, um dos trigos mais plantados no país, mas entrega diversas evoluções ao produtor.
— Talismã deve ganhar um grande espaço no mercado. Ele vem na mesma linha de Audaz. Ou seja, tem uma qualidade industrial muito boa. Agronomicamente, é muito competitivo, inclusive com um ciclo bem parecido ao Audaz. Além disso, a cultivar entrega ótima resistência à mancha amarela e uma evolução significativa frente ao oídio. Então, além da giberela, Biotrigo Talismã deve se consolidar como um material que entrega muita segurança no ponto de vista das doenças de forma geral — menciona.
Escalonamento de épocas de semeadura
Outra medida preventiva para o manejo da doença é buscar o escape da época propícia para a infecção. Isso pode ser feito na definição de qual cultivar usar e em que época a semear.
— O objetivo é escalonar as épocas de semeadura, seja por data ou por ciclos de cultivares, para evitar que a nossa lavoura floresça no mesmo momento e para que possamos, assim, escapar da chuva neste período. É uma estratégia que parece simples, mas que muitas vezes salva o produtor — pontua Flávio.
Uso de fungicidas para controle da giberela
O terceiro pilar do manejo de Fusarium graminearum no campo é o controle químico. Além da utilização de fungicidas específicos, é importante que ele seja feito para cobrir o maior número de anteras possível.
Porém, existe um desafio: as espigas de trigo não florescem no mesmo momento. “Tem cultivares que ficam 7 dias florescendo, enquanto outras ficam 15 dias. Então precisamos lembrar que o processo de florescimento do trigo é duradouro, pois ele depende da cultivar, da região, do nitrogênio e da temperatura”, menciona Ricardo.
Assim, o objetivo principal é proteger o maior número de anteras possível. “Não vejo outra forma de fazer isso se não realizando múltiplas aplicações”, comenta Flávio.
Em que momento essas aplicações devem ser realizadas? Essa é uma importante questão que o produtor deve entender para maximizar a eficiência do manejo e o custo de produção da lavoura.
— Essa recomendação de realizar o controle químico é válida caso as condições ambientais estejam favoráveis à ocorrência de giberela. Ou seja, vai chover e tem condição favorável? Faça um escalonamento das aplicações de fungicida para buscar cobrir o máximo de anteras que conseguir. É indicado realizar uma aplicação no início da antese, com 25% a 50% das espigas em florescimento, e uma segunda aplicação cerca de 5 dias depois, quando 75% a 100% das anteras estiverem expostas. Importante: se não tem flor, ainda não aplique. E se já tem flor, mas elas estão esbranquiçadas, talvez você tenha perdido o timing de aplicação — explica Flávio.
Se as condições ambientais persistirem, sobretudo em casos de cultivares suscetíveis ou nos quais se busca uma qualidade superior de grãos, pode ainda ser feita uma terceira aplicação de fungicida.
Como ressaltou o fitopatologista, a aplicação do fungicida deve ser feita antes das chuvas, pois sua ação é preventiva, não curativa.
— Além de aplicar no momento certo, o agricultor precisa ficar atento ao volume de calda. As gotas do pulverizador, avião ou drone têm que chegar até as flores da espiga, e isso não é tão simples assim. Por isso, é importante ajustar bem o tamanho das gotas. Tem muito produtor que quer reduzir o volume de calda para 80 ou até 50 litros, para cobrir uma área maior. Mas, dependendo do equipamento, isso pode comprometer o controle da giberela — alerta Ricardo Casa.
Fungicidas recomendados para o controle de giberela no trigo
Após diversos ensaios ao longo de mais de sete anos, a Biotrigo consolidou um histórico de dados que aponta os fungicidas mais eficientes no controle da giberela.
Para Flávio, esse manejo passa pelo uso de fungicidas do grupo dos triazóis. “Triazóis são fundamentais no manejo da giberela. Os que têm tido maior eficiência são o meticonazol, protioconazol e tebuconazol”, conta.
Sozinhos, esses triazóis já são capazes de realizar um bom manejo. Entretanto, o fitopatologista aponta que sempre que for possível, é sugerida a mistura desses triazóis com alguns outros fungicidas, visando um aumento na eficiência de controle da doença.
“O mais interessante seria a mistura com benzimidazóis, principalmente o tiofanato-metílico, ou com o pydiflumetofen, um fungicida do grupo das carboxamidas. Dados internos apontam para um incremento de 17% no controle da giberela se há a adição de algum desses fungicidas aos triazóis”, destaca.
Flávio, contudo, pontua: nunca utilizar tiofanato-metílico ou pydiflumetofen sozinhos para manejar giberela, pois eles são aditivos. A base deve sempre ser composta por triazóis.
Por diversas razões, é fundamental que o triticultor realize medidas de manejo para o controle da giberela ano após ano. Além do poder destrutivo do fungo na lavoura, a doença pode causar a produção de micotoxinas nocivas à saúde humana e animal, o que, por consequência, pode reduzir o preço de venda do grão.
“Mesmo em anos secos, às vezes uma chuva é o que basta para que tenha a ocorrência da doença. E são várias as consequências, inclusive prejudicando o comércio de cargas do grão”, afirma Flávio.
E pelo fato do inóculo do fungo ser praticamente onipresente nas lavouras durante o período do inverno – estando hospedado em diversas gramíneas –, é preciso conviver com a giberela. “A convivência passa por essas estratégias de manejo”, sintetiza Ricardo.
FONTE: BIOTRIGO
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